7.05.2006

O ser mais patético...

Noite em claro, o sono perturbou e não conseguiu dormir. Pensou em diversas coisas, pensamentos sempre aparecem como turbilhões nessa hora. Acordou cansada, mal conseguiu sair da cama. Abriu os olhos, foi na cozinha. O tempo fechado avisava a chuva que estava por vim. Precaveu-se, pegou a sombrinha, deixou a casa tão cedo quanto não queria. Três horas de sono não descansam nem o pé da gente. Desceu do ônibus e deparou-se com alguém que não conseguira despertar e ver que talvez chovesse. Lembrou-se então de reclamar do despertador que a fizera sair da cama. Sentiu vergonha. Vergonha por ter seus ouvidos pra escutar o despertador que a fez reclamar. Vergonha por ter suas mãos que o desligou. Vergonha por ter uma voz a qual pôde falar em alto e bom som, mesmo que sozinha. Vergonha por suas pernas que a tirou da cama. Lembrou-se do quanto perde o seu tempo reclamando por coisas tão pequenas. De como seu humor pode ficar terrível porque topou seu pé na quina da cama, quando tem pessoas que amariam ter um pé para reclamar de ter tropeçado e até caído.

Lembro de algum tempo atrás reclamar da minha vida, de não ter mais alegria, na verdade lembro disso como ontem (talvez porque não tenha tanto tempo assim). Alegria é algo que o ser humano luta pra ter. Vi uma apresentação, como um clipe, que realmente me chamou atenção. O ser humano gosta de complicar tudo, vive em busca da felicidade, esquece de viver, pois está numa procura insaciável por ela, enquanto os outros animais apenas vivem (eles sim devem ser felizes). O que seria alegria se não a concepção de algo que a gente nunca tem por completo, em momentos mais longos. Nós sempre estamos momentaneamente felizes, nunca continuamente felizes. Nós sempre achamos que a felicidade estar no ter, quando deveria estar no ser. Contradigo-me. Eu também quero sempre mais, e acho a felicidade instantânea e breve(talvez uns cinco minutos) ao fazer compras, ao arrumar meu cabelo, ao fazer minha unha. Fútil. Supérflua. Que mania essa nós temos de ter uma natureza inteira para apreciar e achar que isso não nos basta. Alguém nos deu um show de graça, nos deu música de graça. Deu-nos praia, sol, árvores, cheiro doce, música em assobio. Nada é suficiente. Talvez a suficiência da felicidade esteja em pedaços coloridos de papel. Homem tolo. Sempre tolo. Podíamos ser tão grandes. Podíamos apreciar como nenhum outro ser aprecia. Nós pensamos, nós sentimos, nos emocionamos.

Às vezes acho que a essência humana é ruim. Diferente do que dizem, creio que a sociedade pode até melhorá-la. Se fosse homem de boa essência, ele não cobraria tanto pra enxergar seu dia. Ele não pediria tanto para ser feliz. Ele não deixaria de explorar tanto verde e azul para explorar apenas o cinza. Ele não se vestiria de preto com tantas cores em harmonia. O homem não nasceu pra ser feliz. O homem não sabe ser feliz, ele apenas sabe sentir alegria momentânea e reclamar continuamente. Natureza essa do ser humano, triste e vazia. Ah se ele fosse como qualquer outro animal, sem ambição. Ah se a vida que lhe foi concebida lhe bastasse. Como o homem poderia ser feliz se fosse inteligente... Mas nós não somos tão inteligentes assim, somos?

Nenhum comentário: